A história do chá

 


Era uma vez, uma princesa portuguesa chamada Catarina de Bragança. Quando se casou com o Rei Carlos II da Inglaterra, em 1662, trouxe consigo um dote inusitado: um baú cheio de chá chinês. Catarina adorava essa bebida e começou a servir chá às suas damas da corte. Não demorou muito para que o chá se tornasse uma moda entre a nobreza inglesa. Mas foi só mais tarde que o famoso costume do chá da tarde realmente ganhou forma.

No século XVII, o chá era um verdadeiro luxo. Apenas a realeza e os membros da corte tinham acesso a essa exótica bebida, que era promovida como um elixir para a saúde. Em 1657, um comerciante chamado Thomas Garraway fez uma publicidade bastante ousada, afirmando que o chá “ativava o corpo, aliviava dores de cabeça e obesidade, depurava os rins, e até reforçava a memória”. Logo, os ricos e poderosos eram frequentemente retratados com seus elegantes jogos de chá, símbolos de refinamento e status social.

Entretanto, o comércio de chá tinha suas complexidades. Quando a Rainha Elizabeth I deu à Companhia das Índias Orientais o monopólio do comércio com o Oriente, o chá se tornou um pouco mais acessível aos britânicos. Até então, eles dependiam dos holandeses para obter a bebida. Em 1784, a Inglaterra reduziu os impostos sobre o chá drasticamente, e seu consumo disparou. O chá, que antes era raro e caro, começou a se tornar uma moda nacional.

Mas havia um problema: o comércio com a China era deficitário para os ingleses. Os chineses não estavam interessados nos produtos ingleses, e os britânicos precisavam de algo para equilibrar a balança comercial. Foi então que recorreram ao ópio. Aprenderam com os mongóis e começaram a cultivar papoulas na Índia. A produção de ópio aumentou significativamente, e os britânicos passaram a exportá-lo para a China.

O consumo de ópio na China cresceu tanto que, em 1830, alarmou as autoridades chinesas. O imperador Daoguang mandou destruir 20.000 caixas de papoula, causando uma enorme perda financeira para os britânicos. Lin Hse Tsu, o oficial encarregado, escreveu uma carta à Rainha Victoria, pedindo que respeitassem as regras de comércio e parassem de vender substâncias nocivas.

A resposta britânica foi declarar que a China havia destruído mercadorias inglesas, o que levou às Guerras do Ópio. A primeira guerra começou em 1839 e terminou em 1842, e a segunda ocorreu entre 1856 e 1860.

Paralelamente, em 1823, os ingleses começaram a cultivar chá na Índia. Utilizaram uma variedade local, a Camellia sinensis assamica, tradicionalmente cultivada pela tribo Singpho. Em 1873, estabeleceram a primeira plantação de chá no Alto Assam. Assim, variedades famosas como o chá preto de Assam, Darjeeling e Nilgiri começaram a ser produzidas. No século XIX, os britânicos já podiam desfrutar dessa deliciosa bebida em seus próprios territórios.

Foi durante o reinado da Rainha Victoria que o chá das cinco, ou five o'clock tea, realmente se consolidou. Dizem que, entre as 4 e 6 da tarde, as ruas ficavam desertas porque todos se reuniam para beber chá, seguindo o exemplo da rainha. Victoria trouxe da Rússia o hábito de adicionar uma rodela de limão ao chá, tornando essa prática popular na Inglaterra.

Em 1840, a Duquesa Anna de Bedford deu o toque final ao costume do chá da tarde. Sentindo fome à tarde, ela começou a tomar chá acompanhado de snacks. Logo, outras damas da aristocracia, assim como a classe média e trabalhadora, adotaram esse hábito, que se tornou uma parte importante da vida social britânica.


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